Travas nas línguas que não têm muito a dizer
que definham letras , palavras e sílabas
há um gotejar de vogais minimalistas
no paladar que dita consoantes
ninguém está a salvo da gramática
ninguém corre para longe
quando o acento é mais soturno
o dia desperta seus laços
e une um emaranhado de fissuras
que não se corrigem
nem mesmo em clínicas orais
trevas travam o celeste silenciar
daqueles que já falaram muito
mas o céu não tem lugar pra mudos
nem mesmo pra quem não escuta
o cintilar da lousa áspera e fria
não há caminho para os surdos
não há intervenção para a ausência
de todos os sentidos
quando tolos estão fadados
a se aventurar em hospícios
o que escuto são gemidos
e pingos de pavor caídos no chão
pausas momentâneas são semáforos
sinais de ausência e movimento
farejo meu esquema tátil
e apalpo minhas mãos calejadas
surradas de sufoco e desavenças
brasas não pisam em seu fogaréu
servem de escravas e réu
de toda brisa que passa
e atrofiam semblantes camaradas
que da vida não fazem mais nada