Zonas restritas

Trafego em zonas restritas

e meu âmago atropela enfadonhos

que se cansam de atravessar estradas

dobro esquina como quem amassa papel

e não se importa com as vias

simplesmente se enxota

quando dá  sinal de repudia

e evita  qualquer atmosfera

da mais bela e condizente

ao mais lindo continente

se me expulsam dos trópicos

tento criar expectativas

que não atrofiem termômetros

que deixem o suor escorrer com facilidade

e que permitam a sensibilidade suavizar o inimigo

como arranjos de pétalas no limbo

sem se importarem com a direção

se os lírios desabrocharam na estação

ou se petúnias calaram odores perturbadores

nas lacunas de meus ouvidos

tento escutar o perfume dos lábios

a voz doce de uma rápida amnésia

com o extinto de esquecer os temores

e lembrar das mais trepidas emoções

dirijo meus pensamentos em alvuras coletivas

repudiando blasfêmias e tolices

e coletando cálices de barítonos

pra que um dia eles cantem suavemente

e façam remoer amores em meus tímpanos

e assim eu ouça os meus gritos

acolhedores nas réplicas dos calouros

que levarão carvões a grandeza dos diamantes

para que mais tarde possam extrair de suas lições

aprendizes de professores

Realce

Derradeiras crises existenciais

começam a me causar introspecções

e introvertido não consigo me localizar

por isso dou um salto instantâneo

e mudo de figura alegrando meu semblante

no cume das minhas vísceras

faço questão de alcançar o topo dos trevos

e realçar a sorte que tanto me afortunou um dia

cordas se afrouxam no meu colo

e entro com os ventres à flor da pele

renascendo das cinzas e sentido as rosas

deslizarem suavemente pelo meu braço

a cotovia canta enquanto as luzes do meu solo

regem a penumbra para que ela se torne lua

e as portas do meu lustre individual abrem

e fazem a felicidade dourar e durar

começo a dirigir sobre veículos que sorriem

e sabem a hora oportuna de estacionar

nenhum carro em transição me aprisionará

se um retirante do transito me para

eu grito e afasto esse tédio eminente

não quero as crises a me rondar no asfalto

pisar no acelerador da pressa e não pensar

isso me conduzirá ao fracasso

quero sentir o aroma viril das frases de impacto

sentir as crases me acentuarem de fato

me assentar nas bases e comprovar os atos

como prova eu tiro retratos

e averiguo cada cacto sensato

para que eu não me comprometa com espinhos

e sinta sim o frescor concreto dos cravos

e me delicie como lebres da fertilidade

buscando a fortuna e a liberdade

Metrópole

Vi avistarem o sol com a rua prateada

por onde passavam carros também prateados

o asfalto era uma forma de construção

e as rodas ferviam no chão quente

pessoas caminhavam desesperadas

e o desespero era calor que não se atenuava

por mais que gritos ecoassem das avenidas

havia um tremor nas cabeças descompassadas

fieis carregavam cruzes e enfeites de devoção

os hereges blasfemavam contra o poder das autoridades

era cínico o badalar de dentes na cidade

o medo piorava a cada vão momento

e as trevas dos concessionários pediam mais automóveis

para entupir as luas de um espaço sem ascensão

favelas e suas nuvens embriagavam de poluição

o ar remoto sem controle piorava radicalmente

o mar não serenava na praia do pânico

cada lugar que via era penumbra

hasteando as bandeiras da ferocidade

o manto da discórdia cobria os leigos

e as mãos ocultas do prazer

acariciavam a sabedoria dos lacaios

fazia parte de todo mês de maio

se entristecer sozinho num alvo pálido

e atirar as flechas em busca de harmonia

Táxi uivar

Jurei manter em gritos meus sonhos
afogar a venda de meus eventos
surrupiar agenda de meus segredos
é meio termo que treme
nesses dias dilacerados
é noite que desnorteia
nesse inverno invertido
procuro a uruca de minha cuca
a túnica lúdica das fumaças
é com a pudica lira crônica
que a súplica leva surra
mas não aguento muito veneno
a laboriosa chibata
agonizante dentro de meu ventre
e sobre os uivos de meu tórax
um táxi conduz os lobos
ao estacionamento das alcateias
é lá que devem ficar as feras
longe de minhas tabernas

Algazarras e Gramáticas

Travas nas línguas que não têm muito a dizer

que definham letras , palavras e sílabas

há um gotejar de vogais minimalistas

no paladar que dita consoantes

ninguém está a salvo da gramática

ninguém corre para longe

quando o acento é mais soturno

o dia desperta seus laços

e une um emaranhado de fissuras

que não se corrigem

nem mesmo em clínicas orais

trevas travam o celeste silenciar

daqueles que já falaram muito

mas o céu não tem lugar pra mudos

nem mesmo pra quem não escuta

o cintilar da lousa áspera e fria

não há caminho para os surdos

não há intervenção para a ausência

de todos os sentidos

quando tolos estão fadados

a se aventurar em hospícios

o que escuto são gemidos

e pingos de pavor caídos no chão

pausas momentâneas são semáforos

sinais de ausência e movimento

farejo meu esquema tátil

e apalpo minhas mãos calejadas

surradas de sufoco e desavenças

brasas não pisam em seu fogaréu

servem de escravas e réu

de toda brisa que passa

e atrofiam semblantes camaradas

que da vida não fazem mais nada