Dic 14, 2010
Trafego em zonas restritas
e meu âmago atropela enfadonhos
que se cansam de atravessar estradas
dobro esquina como quem amassa papel
e não se importa com as vias
simplesmente se enxota
quando dá sinal de repudia
e evita qualquer atmosfera
da mais bela e condizente
ao mais lindo continente
se me expulsam dos trópicos
tento criar expectativas
que não atrofiem termômetros
que deixem o suor escorrer com facilidade
e que permitam a sensibilidade suavizar o inimigo
como arranjos de pétalas no limbo
sem se importarem com a direção
se os lírios desabrocharam na estação
ou se petúnias calaram odores perturbadores
nas lacunas de meus ouvidos
tento escutar o perfume dos lábios
a voz doce de uma rápida amnésia
com o extinto de esquecer os temores
e lembrar das mais trepidas emoções
dirijo meus pensamentos em alvuras coletivas
repudiando blasfêmias e tolices
e coletando cálices de barítonos
pra que um dia eles cantem suavemente
e façam remoer amores em meus tímpanos
e assim eu ouça os meus gritos
acolhedores nas réplicas dos calouros
que levarão carvões a grandeza dos diamantes
para que mais tarde possam extrair de suas lições
aprendizes de professores
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Dic 14, 2010
Derradeiras crises existenciais
começam a me causar introspecções
e introvertido não consigo me localizar
por isso dou um salto instantâneo
e mudo de figura alegrando meu semblante
no cume das minhas vísceras
faço questão de alcançar o topo dos trevos
e realçar a sorte que tanto me afortunou um dia
cordas se afrouxam no meu colo
e entro com os ventres à flor da pele
renascendo das cinzas e sentido as rosas
deslizarem suavemente pelo meu braço
a cotovia canta enquanto as luzes do meu solo
regem a penumbra para que ela se torne lua
e as portas do meu lustre individual abrem
e fazem a felicidade dourar e durar
começo a dirigir sobre veículos que sorriem
e sabem a hora oportuna de estacionar
nenhum carro em transição me aprisionará
se um retirante do transito me para
eu grito e afasto esse tédio eminente
não quero as crises a me rondar no asfalto
pisar no acelerador da pressa e não pensar
isso me conduzirá ao fracasso
quero sentir o aroma viril das frases de impacto
sentir as crases me acentuarem de fato
me assentar nas bases e comprovar os atos
como prova eu tiro retratos
e averiguo cada cacto sensato
para que eu não me comprometa com espinhos
e sinta sim o frescor concreto dos cravos
e me delicie como lebres da fertilidade
buscando a fortuna e a liberdade
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Dic 14, 2010
Vi avistarem o sol com a rua prateada
por onde passavam carros também prateados
o asfalto era uma forma de construção
e as rodas ferviam no chão quente
pessoas caminhavam desesperadas
e o desespero era calor que não se atenuava
por mais que gritos ecoassem das avenidas
havia um tremor nas cabeças descompassadas
fieis carregavam cruzes e enfeites de devoção
os hereges blasfemavam contra o poder das autoridades
era cínico o badalar de dentes na cidade
o medo piorava a cada vão momento
e as trevas dos concessionários pediam mais automóveis
para entupir as luas de um espaço sem ascensão
favelas e suas nuvens embriagavam de poluição
o ar remoto sem controle piorava radicalmente
o mar não serenava na praia do pânico
cada lugar que via era penumbra
hasteando as bandeiras da ferocidade
o manto da discórdia cobria os leigos
e as mãos ocultas do prazer
acariciavam a sabedoria dos lacaios
fazia parte de todo mês de maio
se entristecer sozinho num alvo pálido
e atirar as flechas em busca de harmonia
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Dic 14, 2010
Jurei manter em gritos meus sonhos
afogar a venda de meus eventos
surrupiar agenda de meus segredos
é meio termo que treme
nesses dias dilacerados
é noite que desnorteia
nesse inverno invertido
procuro a uruca de minha cuca
a túnica lúdica das fumaças
é com a pudica lira crônica
que a súplica leva surra
mas não aguento muito veneno
a laboriosa chibata
agonizante dentro de meu ventre
e sobre os uivos de meu tórax
um táxi conduz os lobos
ao estacionamento das alcateias
é lá que devem ficar as feras
longe de minhas tabernas
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Dic 14, 2010
Travas nas línguas que não têm muito a dizer
que definham letras , palavras e sílabas
há um gotejar de vogais minimalistas
no paladar que dita consoantes
ninguém está a salvo da gramática
ninguém corre para longe
quando o acento é mais soturno
o dia desperta seus laços
e une um emaranhado de fissuras
que não se corrigem
nem mesmo em clínicas orais
trevas travam o celeste silenciar
daqueles que já falaram muito
mas o céu não tem lugar pra mudos
nem mesmo pra quem não escuta
o cintilar da lousa áspera e fria
não há caminho para os surdos
não há intervenção para a ausência
de todos os sentidos
quando tolos estão fadados
a se aventurar em hospícios
o que escuto são gemidos
e pingos de pavor caídos no chão
pausas momentâneas são semáforos
sinais de ausência e movimento
farejo meu esquema tátil
e apalpo minhas mãos calejadas
surradas de sufoco e desavenças
brasas não pisam em seu fogaréu
servem de escravas e réu
de toda brisa que passa
e atrofiam semblantes camaradas
que da vida não fazem mais nada
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