Dois tipos de folhas me questionam

a folha do caderno que ergue palavras

e serve pra identificar sonhos

e a folha de um outono que seca

e definha quando o dilema é a guerra

com mãos em punho escrevo poesias

deixo a imaginação e a real compostura

fluírem sem nenhuma flecha

a atingir com quedas múltiplas a dor

já a estação das rugas e do cansaço

viu o tempo passar

e hoje já não tem nem força pra falar

comprimida de ideais esquecidos

perdeu seus encantos mais fortes

e hoje canta com a agonia dos mortos

e sem o calor dos trópicos

temos que iluminar nossos dias

resgatando a robustez da primeira folha

daquela que enxotou os conchavos alheios

e que pensou em suas próprias conquistas

temos que entoar cantigas de acordar

e não ninar pensando na próxima estação

o outono já se preparou para o inverno

sente o ardor gélido remoer suas entranhas

temos que lapidar nossas façanhas

e não cair no conto do vigário incrédulo

nem acreditar que somos adeptos

de um vilarejo seco de emoções

e gotas que não choram

os virtuosos derramam prantos de glória

e não inundam os lares de alegria cativa

que cai sempre na mesma rotina

como gatos atrás de um novelo de lã

temos que ser valsa

e não falsos em nossas cantigas