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Uma batolada de incidentes precários
não virá servir de subterfúgio a escassez
ao dilúvio mediúnico que há de captar
em auroras enevoadas meu silêncio
amiúde conquistarei sopros cartesianos
e a mim vou implantar o soro da cura
para que possa redimir meus fracassos
e acender o cetim no feitiche das bigornas
gerando leveza invés de lugares pesados
um entulho fará varreduras em meus brônquios
e trará frescores a minha órbita cintilante
todo ar que respira tem um lar
e assim vou morar aliviado e menos tenso
sem perder o senso do exímio
pois não quero bancar o ridículo em meu veio
no seio da terra que me cria particularidades
haverão partículas de um bem querer amoroso
lá impostarei a voz para ecoar nas grutas
e me sentir em casa devastando horizontes
nas partituras dos meus sustenidos
darei um tiroteio mensal aos meus gritos
mas um tiro de flores a lavar a alma
com cheiro de canções encantarei meus pulsos
e a serviço dos brilhos do sol
luzirei sobre as chamas iluminadas do amor
é bonita cada virgula que se torna ponto
a exclamar suas afinadas indagações
me lamuriar não está nos meus planos cerebrais
mas está nos momentos arejados em que uso a mente
a mente dos cobertores a me socorrer
a trazer conforto para todo o meu corpo
e a esquentar como viseira os cílios
mais perturbadores e insones
agora acordo para as idas e vindas do espírito
que elas não tentem medrar minha carcaça puritana
mas que tentem tornar obra os restos da sobra
sobra embutida em um criado mudo
que se torna servo liberto e fala palavras doces
a beleza do mundo está em saber o gosto e o gesto
e não em se atenuar ao custo e ao vélcro das incertezas
nem ao sustos dos absurdos e dos mestres inglórios
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Câimbras paralisam o conchavo
que existe entre beatos de pouca fé
começam a formigar os membros
os membros de uma sociedade anestesiada
pela falta de bom senso
ninguém está radiante de alegria
todos estão fadados ao esquecimento
desmemoriados pelas fúrias constantes
ovacionados pela estirpe da tolice
juras de pavor não param de vaiar
e os aplausos se tornam puros mitos
samambaias estão a deriva nos castelos
as plantas começam a murchar de desespero
enquanto as flores perdem seu cheiro
e os sábios esquecem das glórias errantes
não existe viva alma no semblante do poço
todos esquecem de afundar no interior
no interior de suas emoções
e acabam por prestigiar falsos abismos
e não conseguem mudar de vida uterina
se perdem no muro de suas origens
e castram o orgulho fétido da felina
que não rasteja mais atrás de sua presa
tampas de bueiro fecham realizações
o esgoto não será banido das vidas reprimidas
e o amor será alvo de vandalismo
quando as portas do mundo forem extraditadas
como bagagens sem valor próprio
lâmpadas escravizam a luz dos olhos
apagam a realidade
transformando velas em dejetos artificiais
devemos iluminar os brasões da hospitalidade
e não passar o rastelo no solo da infertilidade