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Uma selva de lâminas

acariciava os arbustos

que pequenos dilaceravam muitos

era de se espantar o tamanho dos sustos

que coléricos difamavam os outros

nas entrelinhas de um arvoredo

se via escondida a pequenez atroz

que consumia a grandeza de poucos

era notório o calcular de preces graúdas

que afastariam os desfalques e fobias

pra que gestos servissem de alento

era preciso mais que contentamento

era preciso que a proteção dos cômicos

limpasse o humor de seus assoalhos

e não pisasse no gramado da seriedade

era preciso nostalgia em forma de criança

pra que na infância o amor  restituísse a saudade

nos vínculos que unem veículos

estão unidas as lembranças motoras

ninguém esquece de estacionar mais tarde

uma guerra de seda tremula

não espanta dos olhos a leveza

e não deixa de fazer voar a libélula

que esbanja em seu pouso a certeza

que seremos felizes pra sempre

uma serra que corta a cerca

nunca mais prenderá infortúnios

e não salgará o mel das abelhas

pra que mude de gosto a tristeza

que um dia se transformará

em luxúria previa da alegria

pra que num hibernar de luzes

nunca se apague a euforia

é sabedoria absoluta se embrenhar em via

espantar as ruas da agonia

e tilintar pelas mais belas avenidas

uma trégua as campinas

que verdes não amadurecem seus conselhos

e se entregam ao rústico patrimônio das intrigas

devemos espelhar nossos reflexos na montanha

e avistar a serra que se condensa diante das maravilhas

2

Em meio à sombras delirantes

a carniça debruçava suas lastimas

a cabeça debruçava ameaças

e o  ombro dissecava-se nas matas

era lisonjeiro o açoitar de corpos

ruminando a esmo

e as incógnitas do tempo

diziam que o amor estava em pedaços

ninguém morria de fato nos campos

ninguém entoava um só pranto

e chorava órbitas e desenganos

era de derramar vitórias

cada gota ininterrupta de fracasso

e a derrota perpetuava nos corações

onde o homem passava horas a fio

num compasso intrigante de idéias

e os tecidos rígidos da lisonja

interrompiam as mortes súbitas

quando havia ainda ar para respirar

os trajetos emoldurados da ira

ofuscavam o sol nascente

e declinavam o poente

eram lindas as cóleras do mundo

as feras gananciosas do lirismo

onde os poetas sanavam dores

e declamavam seus amores

troféus do exílio coletivo

e dos pecados aflitivos

nas selvas intrínsecas do desperdício

haviam ainda almas variando sonhos

catalogando adornos

desperdiçando vidas

e as nuances dos mortos eram obras

intermináveis que não cessavam

formas tetraplégicas de consumo

arquétipos de insensatez e loucura

em meio à câimbras e avarezas

o monstro da fartura devorava decência

e construía uma sociedade arrogante

formada por cartas na manga

trapaça e um punhado de avareza

no fim tudo era incerto e colibri

voando perto da tristeza