Dic 17, 2010
Vou contar os dedos das mãos
como quem desfolha seus quilates
forjando seus anéis incrustados
procuro remover com álcool os desgastes
que tingem a mente de preocupação
vou dourar a ouro minha alquimia
que é destilar segredos ilusórios
vou remover as pestes públicas
pra não andar na multidão
sonhando acordado
vou bocejar vagarosamente
e flambar as labaredas da visão
olhar com doçura meus critérios
meus créditos de devoção
assim pretendo desposar maciez infindável
e não cair no peso das armadilhas
que criam embalagens frágeis
vou abrandar o teor cético
das minhas peripécias divinas
falar em tom raquítico
que pretendo lapidar minha estrutura
minha cartilagem óssea
tem motivos de sobra
pra não se assombrar com corpos
que aglutinam lamentações
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Dic 17, 2010
1
Uma selva de lâminas
acariciava os arbustos
que pequenos dilaceravam muitos
era de se espantar o tamanho dos sustos
que coléricos difamavam os outros
nas entrelinhas de um arvoredo
se via escondida a pequenez atroz
que consumia a grandeza de poucos
era notório o calcular de preces graúdas
que afastariam os desfalques e fobias
pra que gestos servissem de alento
era preciso mais que contentamento
era preciso que a proteção dos cômicos
limpasse o humor de seus assoalhos
e não pisasse no gramado da seriedade
era preciso nostalgia em forma de criança
pra que na infância o amor restituísse a saudade
nos vínculos que unem veículos
estão unidas as lembranças motoras
ninguém esquece de estacionar mais tarde
uma guerra de seda tremula
não espanta dos olhos a leveza
e não deixa de fazer voar a libélula
que esbanja em seu pouso a certeza
que seremos felizes pra sempre
uma serra que corta a cerca
nunca mais prenderá infortúnios
e não salgará o mel das abelhas
pra que mude de gosto a tristeza
que um dia se transformará
em luxúria previa da alegria
pra que num hibernar de luzes
nunca se apague a euforia
é sabedoria absoluta se embrenhar em via
espantar as ruas da agonia
e tilintar pelas mais belas avenidas
uma trégua as campinas
que verdes não amadurecem seus conselhos
e se entregam ao rústico patrimônio das intrigas
devemos espelhar nossos reflexos na montanha
e avistar a serra que se condensa diante das maravilhas
2
Em meio à sombras delirantes
a carniça debruçava suas lastimas
a cabeça debruçava ameaças
e o ombro dissecava-se nas matas
era lisonjeiro o açoitar de corpos
ruminando a esmo
e as incógnitas do tempo
diziam que o amor estava em pedaços
ninguém morria de fato nos campos
ninguém entoava um só pranto
e chorava órbitas e desenganos
era de derramar vitórias
cada gota ininterrupta de fracasso
e a derrota perpetuava nos corações
onde o homem passava horas a fio
num compasso intrigante de idéias
e os tecidos rígidos da lisonja
interrompiam as mortes súbitas
quando havia ainda ar para respirar
os trajetos emoldurados da ira
ofuscavam o sol nascente
e declinavam o poente
eram lindas as cóleras do mundo
as feras gananciosas do lirismo
onde os poetas sanavam dores
e declamavam seus amores
troféus do exílio coletivo
e dos pecados aflitivos
nas selvas intrínsecas do desperdício
haviam ainda almas variando sonhos
catalogando adornos
desperdiçando vidas
e as nuances dos mortos eram obras
intermináveis que não cessavam
formas tetraplégicas de consumo
arquétipos de insensatez e loucura
em meio à câimbras e avarezas
o monstro da fartura devorava decência
e construía uma sociedade arrogante
formada por cartas na manga
trapaça e um punhado de avareza
no fim tudo era incerto e colibri
voando perto da tristeza
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Dic 15, 2010
Unindo a haste perfeita
me sinto famigerado ao extremo
como se estivesse no paraíso
fugindo de meus problemas
tento curtir melhores acalantos
e nunca me perder dos guizos
pois eles me fazem recordar
que cada serpente é um antro
de perdição a ser esquecido
nos semblantes mais larvais
encontro a origem dos meus nervos
explícitos e navais
eles empurram as embarcações
e deixam as âncoras para trás
nos barcos há uma proa que separa
toda discórdia que se arrasta
e deixa os marujos indefiníveis
acompanhados de restos
que querem ser reconhecidos
e não cria máquinas
que se alojam nas arestas do desperdício
mesmo nos momentos de calibrar compromisso
eu respiro com tamanho alivio
nenhuma praga pode açoitar pêlos
que se soltam dos signos animalescos
pois eles têm a garra de decifrar o futuro
e não são como fantasias de carrascos
a ignorar a formula e o soro
que podem curar o mal
toda presa culpa o predador por sua fraqueza
mas não é de se espantar que no mundo
ainda existam troféus de beleza
no paraíso volto a dizer
me sinto como quem foge dos resíduos
que tornam perecíveis as virtudes
sou um rapaz assíduo
mas nunca cavo o fundo do poço
com os mesmos tratores
nem mesmo escravizo personagens e atores
que sejam eles reais, fictícios
ou semelhança entre meus humores
prefiro rir ao gozar de meus atrevidos horrores
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Dic 14, 2010
Trafego em zonas restritas
e meu âmago atropela enfadonhos
que se cansam de atravessar estradas
dobro esquina como quem amassa papel
e não se importa com as vias
simplesmente se enxota
quando dá sinal de repudia
e evita qualquer atmosfera
da mais bela e condizente
ao mais lindo continente
se me expulsam dos trópicos
tento criar expectativas
que não atrofiem termômetros
que deixem o suor escorrer com facilidade
e que permitam a sensibilidade suavizar o inimigo
como arranjos de pétalas no limbo
sem se importarem com a direção
se os lírios desabrocharam na estação
ou se petúnias calaram odores perturbadores
nas lacunas de meus ouvidos
tento escutar o perfume dos lábios
a voz doce de uma rápida amnésia
com o extinto de esquecer os temores
e lembrar das mais trepidas emoções
dirijo meus pensamentos em alvuras coletivas
repudiando blasfêmias e tolices
e coletando cálices de barítonos
pra que um dia eles cantem suavemente
e façam remoer amores em meus tímpanos
e assim eu ouça os meus gritos
acolhedores nas réplicas dos calouros
que levarão carvões a grandeza dos diamantes
para que mais tarde possam extrair de suas lições
aprendizes de professores
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Dic 14, 2010
Derradeiras crises existenciais
começam a me causar introspecções
e introvertido não consigo me localizar
por isso dou um salto instantâneo
e mudo de figura alegrando meu semblante
no cume das minhas vísceras
faço questão de alcançar o topo dos trevos
e realçar a sorte que tanto me afortunou um dia
cordas se afrouxam no meu colo
e entro com os ventres à flor da pele
renascendo das cinzas e sentido as rosas
deslizarem suavemente pelo meu braço
a cotovia canta enquanto as luzes do meu solo
regem a penumbra para que ela se torne lua
e as portas do meu lustre individual abrem
e fazem a felicidade dourar e durar
começo a dirigir sobre veículos que sorriem
e sabem a hora oportuna de estacionar
nenhum carro em transição me aprisionará
se um retirante do transito me para
eu grito e afasto esse tédio eminente
não quero as crises a me rondar no asfalto
pisar no acelerador da pressa e não pensar
isso me conduzirá ao fracasso
quero sentir o aroma viril das frases de impacto
sentir as crases me acentuarem de fato
me assentar nas bases e comprovar os atos
como prova eu tiro retratos
e averiguo cada cacto sensato
para que eu não me comprometa com espinhos
e sinta sim o frescor concreto dos cravos
e me delicie como lebres da fertilidade
buscando a fortuna e a liberdade
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Dic 14, 2010
Vi avistarem o sol com a rua prateada
por onde passavam carros também prateados
o asfalto era uma forma de construção
e as rodas ferviam no chão quente
pessoas caminhavam desesperadas
e o desespero era calor que não se atenuava
por mais que gritos ecoassem das avenidas
havia um tremor nas cabeças descompassadas
fieis carregavam cruzes e enfeites de devoção
os hereges blasfemavam contra o poder das autoridades
era cínico o badalar de dentes na cidade
o medo piorava a cada vão momento
e as trevas dos concessionários pediam mais automóveis
para entupir as luas de um espaço sem ascensão
favelas e suas nuvens embriagavam de poluição
o ar remoto sem controle piorava radicalmente
o mar não serenava na praia do pânico
cada lugar que via era penumbra
hasteando as bandeiras da ferocidade
o manto da discórdia cobria os leigos
e as mãos ocultas do prazer
acariciavam a sabedoria dos lacaios
fazia parte de todo mês de maio
se entristecer sozinho num alvo pálido
e atirar as flechas em busca de harmonia
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